"Prescrição" de Marco Miranda (por: Ana Carrilho)

 

No consultório da psiquiatria, em a "Prescrição" do realizador Marco Miranda.

O actor José Carlos Garcia,no papel de um paciente com o medo da chegada da morte, é prisioneiro dos seus pensamentos. Perturbado e com o corpo quase entorpecido “amarrado” a uma cadeira, desabafa a morte com o seu terapeuta, João Perry.
“Pode ser a qualquer hora, onde quer que seja, com quem quer que seja...” a morte. A alma do paciente está a fugir-lhe do corpo enquanto desabafa. Num estado caracterizado por um sono profundo e demorado, causado por um bloqueio cerebral, consequência de um episódio na sua adolescência. Um flash transporta-o até aquele momento de onde surgiu a ansiedade. Uma situação pontual que lhe causa um mau estar.
O terapeuta ouve-o pergunta-lhe pela família, aquando segura uma moldura da sua, que tem na mesa no seu gabinete. Limpa o suor da testa, parece incomodado com o que o paciente lhe descreve.
“É expontaneo e também pode ser um exercício provocado ” o confronto com a morte é um estado normal, não é expectativo que a morte predomine os nossos pensamentos, mas como foi o caso deste paciente, condiciona-o, experimentou um episódio menos positivo. Diagnóstico: existe uma forte probabilidade de um quadro depressivo. Os seus pensamentos dominados pela morte, isto não significa que tenha vontade de morrer, mas sofre de antecipação de morte, sempre acompanhado de um desconforto e angústia.
Enquanto fala que Shakespeare e Libniz, não os acha loucos, logo ele também não é.
O terapeuta escreve num papel a prescrição. Dobra-o e estende-o ao paciente.
O paciente abandona o consultório. Caminha num modus sonâmbulo com o corpo opaco, na rua entre as pessoas e na estação do metro, transportado para qualquer distância, o corpo quase aniquilado privado de emoções.
No interior do metro, o paciente sentado, abre o papel: ” também sou igual a si” sustém a respiração, com uma resposta de medo e pânico, à sua volta o metro fica vazio.
Não havemos de encarar a morte como um enigma, já dizia Agostinho da Silva, filósofo e poeta: "...e tanto mais alto subiremos, quando menos considerarmos a morte como um enigma ou fantasma, quanto mais a olharmos como uma forma entre as formas”.