"Transe" de Teresa Villaverde (por: Ana Carrilho)

 

Ana Moreira tem uma das mais brilhantes interpretações de todo o seu roteiro pelo cinema. Teresa Villaverde volta a escolher a actriz depois de Mutantes, onde interpreta novamente um personagem que lhe exige sofrimento in extremis.
Teresa Villaverde, explora um tema violento e ignorado na sociedade, o tráfico de mulheres. O retrato cruel, frio e cru causa-nos alguma tensão. Uma visão muito pouco condescendente da humanidade, onde o personagem de Ana Moreira é alvo de humilhação, dor física e psicológica. É um papel singular e desafiante.
O personagem de Ana Moreira, Sónia de nacionalidade Russa, a viver com poucas condições no seu país decide emigrar. Durante essa viagem cruza-se com uma rede de tráfico de mulheres para prostituição. Nessa interminável e dolorosa odisseia, é forçada a um estado psicológico de apatia, e é essa atitude que a torna resistente para continuar a lutar. Esse estado apático, que a anestesia da atrocidade e falta de humanidade vem ao acaso do título do filme. É este transe o expoente máximo e eixo principal da história visual e narrativa. 
Uma fotografia magistralmente artística brechtiana e tão sublime como a “pintura” de Tarkvoski, rostos, acontecimento de luz e paisagens são o que fornece solo firme para o filme ser o que é.   Como Tarkvoski, Teresa Villaverde escolhe primeiros planos dos rostos que denunciam ser uma substância relevante com o objectivo de evidenciar profundidade e impressionar o espectador. Transe pode ser discutível em outros aspectos menos positivos, a planos extensos e ser excessivamente claustrofóbico. 
Dito isto, Teresa Villaverde continua a surpreender-nos com uma visão extrema sociológica, que resume o filme a uma densidade simbólica, poética e genuína e confere de novo à actriz Ana Moreira um papel bem conseguido.