António Pedro Vasconcelos - Realizador

by Marta Cabral (marta.cabral@portugalfantastico.com)

Intelectual por natureza, o cineasta António Pedro Vasconcelos partilha a sua paixão pelo cinema com a literatura, a televisão, o futebol e a família.

Desde muito cedo se afirmou como um leitor compulsivo, sobretudo de romances, tendo sido atraído para o cinema através da ficção. Considera que a Sétima Arte tem algumas diferenças substanciais face à literatura, nomeadamente no que concerne ao modo de contar histórias através de personagens de carne e osso, enquanto nos romances tudo tem de ser imaginado pelo leitor. Com a pretensão de escrever livros e contar histórias desde muito novo, António Pedro Vasconcelos teve a consciência que, “escrever é uma actividade triste e solitária”!

Detentora de uma indústria cinematográfica muito pouco abrangente, o realizador acusa a cultura portuguesa de ser “pequena, periférica e pobre”. Em Portugal a política do cinema passa pelo Estado, “…que decide quem filma e quem não filma, coisa que acho aberrante.”

Só começou a filmar aos trinta anos e em quarenta fez oito filmes: “Apesar de ser a minha única paixão eu não vivo disto!”, esclarece o realizador que considera que em Portugal é impossível viver exclusivamente do cinema. “Portugal é bom para se ter um restaurante ou uma farmácia”, ironiza.

Para se fazer um bom filme é essencial que se imaginem personagens e se saibam os actores exactos para a encarnar. “Tem que haver um dom que eu acho fundamental e que se cultiva”, afirmou.

Como professor costuma dizer aos seus alunos que a única coisa que um cineasta não pode dispensar é saber antecipar a reacção do público: “se um grupo de espectadores não percebeu a piada, a culpa é tua, porque tu é que não a soubeste explicar!

“Eu sou um homem do cinema mas interessa-me mais a televisão enquanto media porque a TV tem um efeito sobre as pessoas muito maior do que o cinema”, refere António Pedro Vasconcelos ao mesmo tempo que considera a televisão uma verdadeira “alavanca de negócios, interesses e poder”.

Na sua carreira considera que faltou ter feito três ou quatro vezes mais filmes, no entanto, com um sentimento realista, afirma que gostava que as coisas em Portugal mudassem embora não tenha qualquer esperança que venha um “ministro da cultura” capaz de mudar essa situação.

 Em cada filme que faz tenta sempre não repetir os erros anteriores. Este é o seu lema para obter sempre melhores produtos: “olho para os meus filmes e sou o meu maior juiz”, confessa.

Para o futuro deseja apenas que os seus filmes o deixem, se não for satisfeito por completo, pelo menos sem vergonha de os ver.

Amante do futebol em geral e do Benfica em particular, não conseguiria escolher entre um e outro caso tivesse de o fazer. No entanto, não esconde o seu contentamento por serem perfeitamente compatíveis: “a satisfação que me dá um jogo de futebol como o Benfica e as vitórias que me dá são momentos e emoções não comparáveis com nada (…) Gosto muito de ir com o meu filho e os meus netos ao futebol e essa sensação de partilha com eles é simplesmente única. Ver um grande filme ou um grande jogo são emoções completamente distintas que não se anulam mas se podem somar, como outros prazeres que tenho na vida”, remata o realizador.