"Tabu" de Miguel Gomes (por: Ana Carrilho)

Um dos grandes sucessos do cinema português, Tabu, venceu o prémio de melhor filme no Festival da Academia Portuguesa de Cinema. A longa metragem com a direção do realizador Miguel Gomes e colaboração de Mariana Ricardo está dividida em dois segmentos, Paraíso Perdido e Paraíso. O primeiro distinguido por uma Lisboa solitária nos dias de hoje, menos longo mas incondicionavelmente emotivo, juntamente com as personagens igualmente solitárias e instáveis de uma personalidade e alma forte . A actriz Laura Soveral dá voz à personagem Aurora nos dias de hoje e narra-nos nas cartas o fim. Também pela narração do actor Henrique Espírito Santo no papel de Ventura nos dias de hoje ,viajamos para cenários exóticos com uma soberba fotografia, localizados nos anos 60, a preto e branco e mudo de diálogos que corresponde ao segundo e último segmento. Relatos de caminhos em Africa decadas antes, colónias, sede de aventura e romance contaminam a história de Tabu num cenário que se aproxima do cinema americano daquela época. Com ritmos africanos , sons da selva, uma banda sonora ritmada e outros planos em que somos invadidos pelo olhar das personagens fixo em nós. Acompanhamos o romance embutidos de paixão e serenos com as personagens Aurora(Ana Moreira) e Ventura (Carloto Cotta) enquanto jovens, a observarem as nuvens que desenham figuras animadas como o crocodilo melâncolico, elo de ligação destas duas personagens e que "está sempre a observá-los". O filme foi filmado com um metodo pouco usual no cinema português actualmente, classificando-o de uma "obra prima" em formato 4:3 totalmente a preto e branco com uma essência e avassaladora poesia e uma homenagem ao cinema português. "Se a memória dos homens é limitada, a do mundo é eterna e a ela ninguém poderá escapar" fica-nos esta frase dita por Aurora na carta a Ventura, num momento final de Tabu.